quarta-feira, 4 de abril de 2018

Médico acusado de estupros de pacientes vai para o banco dos réus


O médico ortopedista e traumatologista Kid Nélio Souza de Melo, de 35 anos, acusado de estuprar pacientes durante atendimentos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira e em clínicas particulares no Recife, passou à condição de réu. A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Pernambuco. O médico também teve a prisão preventiva decretada e deve aguardar julgamento atrás das grades.
O processo está na 17ª Vara Criminal da Capital. A Central de Inquéritos do MPPE confirmou que ofereceu a denúncia, mas que a mesma corre sob sigilo porque “as práticas do médico se enquadram dentre os crimes contra a dignidade sexual”. De acordo com a denúncia do MPPE, as investigações da Polícia Civil concluíram que mulheres com idades entre 18 e 39 anos eram abusadas sexualmente pelo ortopedista. Mais de dez vítimas registraram queixa.
As mulheres afirmaram à polícia que, durante os atendimentos, o médico pedia para que elas ficassem nuas – mesmo que, em algumas situações, elas apresentassem problemas simples nos punhos ou nos pés, por exemplo. Era nesse momento que os abusos eram praticados. “Elas relatam que ficaram tão mal, que não conseguiram gritar. Estavam travadas”, afirmou a delegada Ana Elisa Sobreira, no dia da prisão do acusado, há um mês. Segundo a Polícia Civil, o acusado afirmou em depoimento que teve relação sexual consentida com duas pacientes. Também negou que tenha estuprado as outras mulheres que o denunciaram.
A primeira vítima a procurar a Delegacia de Polícia da Mulher, no bairro de Santo Amaro, foi uma jovem de 18 anos, que teria sido estuprada no dia 21 de fevereiro deste ano. No mesmo dia, o médico foi afastado das funções por determinação da direção da UPA da Imbiribeira. No dia seguinte, diante da repercussão da denúncia, uma universitária de 32 anos tomou coragem e também procurou a polícia. O mesmo aconteceu com outras mulheres.
A Justiça deu dez dias para que o médico apresente a defesa prévia. Depois disso, deve ser marcada a primeira audiência de instrução e julgamento do caso. O Ronda JC não conseguiu contato com a defesa do acusado.
PERFIL: Kid Nélio é médico há nove anos. Ele se formou pela Universidade do Rio Grande do Norte e especializou-se na área de ortopedia e traumatologia, com ênfase em cirurgias. Além da UPA da Imbiribeira, ele também trabalhava em clínicas particulares. O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) abriu sindicância para investigar a conduta do profissional, que pode perder o direito de exercer a profissão.
O médico também responde a processos na Justiça por supostos erros médicos. A informação foi revelada pelo Ronda JC no mês de fevereiro. Um dos casos ocorreu em 2016. Um policial militar precisou passar por uma cirurgia no punho direito porque sofreu um acidente de bicicleta ao cair em um buraco na Avenida Norte, no Recife. O advogado do policial, Carlos Eduardo Mota, afirmou que houve um erro no procedimento e o paciente precisou passar por nova cirurgia, desta vez realizada por outro profissional. Mesmo assim, o PM teria perdido parte dos movimentos do braço. O processo tramita na 4ª Vara Cível da Capital.
Outro processo que tem o médico como réu também tramita na 31ª Vara Cível da Capital. O Tribunal de Justiça de Pernambuco afirmou que esse segundo processo foi concluído em primeiro grau e que o recurso ainda está sendo julgado. A assessoria não informou detalhes do caso.
ESTATÍSTICAS: Entre os anos de 2007 e 2017, a Polícia Civil de Pernambuco investigou 21 médicos suspeitos de crimes de estupro, no exercício da profissão. Do total de casos, seis foram registrados no Recife. Dos 21 médicos investigados por estupro, três foram considerados como suspeitos pela polícia. Os outros profissionais foram apontados como autores do crime. Outro dado que chama a atenção é que, do total de médicos, quatro foram investigados por estupro de vulnerável (quando as vítimas são menores de 14 anos ou, por qualquer outra causa, eram pessoas que não podiam oferecer resistência).
Somente no ano passado, três médicos foram denunciados à polícia por abuso sexual. Um dos casos ocorreu em fevereiro, no município de Calumbi, no Sertão do Estado. Os outros dois foram na Região Metropolitana do Recife: um em Olinda e outro em Jaboatão dos Guararapes.

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